Olá,
Queridos,
hoje consegui o computador da escola novamente, e pude ler as suas mensagens, quase não consegui ver pois, a além da vista curta, os olhos estão cheias de lágrimas, lágrimas de amor, de saudades, de dor... amor por todos, saudades de quem amamos, dor pelo sofimento e abandono deste povo, irmãos brasileiros que tem o mesmo sangue verde amarelo que corre em nossas veias, no entanto porque tanto sofrimento?
Vocês não tem idéia do que vimos, vivemos e aprendemos aqui, do que temos chorado.
O capitão Lessa, do batalhão onde estamos ficando, ligou para o Cel Allan em Macapá, e para o Maj Vial que autorizaram fornecer o combustível, então ele chamou o motorista e mandou encher o tanque do ônibus...
Olha, a cada dia, a cada dificuldade, a cada lágrima, a cada angústia, a cada sofrimento e sentimento de importência e limitação, a gente aprende muito. Mas, prendemos também a cada soriso, a cada aperto de mão que recebemos nas ruas, toda vez que dizem "lá vem os amarelinhos", nosso coração se enche de alegria e contentamento, a cada oficina que a comunidade participa e vemos os alunos dando o melhor de si, isso conforta e anima nossos corações e nosso espírito, muitas vezes abatido.
Teve um dia que tínhamos que buscar umas crianças numa comunidade longe e as meninas começaram chorar por causa das crianças (principalmente a Débora), então nós pagamos o combustível para ele ir lá na comunidade e trazer as crianças, a alegria que nossas meninas ficaram em ver as crianças na gingaca foi uma recompensa enorme, além é claro do sorriso e contentamento das crianças, isso não tem preço....
Bom para aliviar, na segunda pela manhã subimos o rio oiapoque cerca de 100 km para visitar uma comunidade chamada Vila Brasil. Gente a viagem é espetacular, são 6 horas de barco, mas não á um baaaaaarrrrrcco, é uma voadeira, um barquinho desses de pesca. Como subimos rio acima, tem muitas corredeiras e fizemos uma espécie de raffiting, é adrenalina pura, o pessoal vibrou.
A comunidade vive do comércio que fazem com os indígenas franceses que moram na guiana, do outro lado do rio.
Tem uma pinga francesa aqui que tem 50% de alcool, quer encarar.... o dono de uma venda me disse que uma garrafa deixa 20 pessoas bêbadas (só para deixar bem claro eu nao experimentei viu!!!!!!). As mulheres indígenas vivem com os seios a mostra e os homens com uma tanga vermelha... A comunidade tem +/- 250 habitantes e cerca de 60 casas, a noite fizemos uma oficina com a população, compareceu cerca de quase 20% da população, foi o melhor trabalho que realizamos, um grande aprendizado para todos. Durminos no destacamento, as margens do rio oiapoque, com toda selva amazônica a nossas costas. Acordar aqui foi um presente divino, se não fosse pelos mosquitos (e são muitos mesmo!) tive a impressão de que estava no paraíso e que Deus iría aparecer a qualquer momento para nos dar bom dia....(minha concepção de paraíso não tem tantas moscas assim,, rsrsssss...), mas tudo bem isto é Rondon.
A viagem de volta durou quatro horas, é mais rápido pois vem rio abaixo a favor da correnteza, a velocidade é maior e quando chega nas corredeiras é pura emoção, por volta da 3 da tarde paramos numa prainha para um lanche, que o pessoal do batalhão havia preparado (eles são muito atenciosos), o sol tava escaldante, caímos ná água de roupa e tudo, foi o melhor banho de rio que já tomei...
Neste momento estamos na Escola Joaquim Nabuno, nosso QG, alguns alunos, estão nas oficinas outros estão preparando atividades para a tarde.
Hoje a noite vamos ter uma atividade em CleveLândia do Norte, o batalhão onde ficamos hospedados, vamos fazer uma sessão de Cine Rondon para eles, com o filme filme Rio, que conta a história de uma ararinha azul... e muito lindo.
Não precisam ficar preocupados com nossas dificuldades, apesar delas está tudo bem, o pessoal do exército é muito dedicado e super atencioso com a gente, tem nos ajudado muito, as alegrias são muito superiores às frustrações.
Para falar a verdade estou com muita dó do prof Marciano..... espero que tudo esteja bem com ele porque eu.... bem... acho que não preciso dizer nada......EU ESTOU ÓTIMO, recebendo a maior lição de Brasil, de cidadania, de vida e humanidade, que não se encontra em nenhum livro, palestra ou sala de aula.... muito obrigado pela oportunidade de crescer como pessoa....
Para encerrar, quero dizer que, apesar de toda experiência, meu coração está cheio de saudades de todos, especialmente de minha família e da Ilizete é claro.
Queridos, obrigado por tudo, principalmente pelas orações, continuem rezando.
Irmão Alvanei obrigado pela lembrança de Marcelino Champagnat, foi um grande alento para minha alma missionária.
Muitos beijos à todos.
Fiquem em Paz.
Ernesto